ÁGUA : PORTO


 
As Faculdades de Belas Artes das Universidades do Porto e de Barcelona, assim como o i2ADS, Instituto de Investigação em Arte, Desenvolvimento e Sociedade, aceitaram participar num projecto de investigação em arte, coordenado pelos Professores Domènec Corbella (Barcelona) e António Quadros Ferreira (Porto). Este projecto conjunto possui uma dimensão simultaneamente editorial e expositiva. Devo ao Professor Domènec Corbella a extraordinária cooperação e cumplicidade num projecto comum que pretende realizar, em torno de um tema tão identitário como Água, não só um exercício de investigação teórico-prática, como o de possibilitar um intercâmbio universitário ibérico entre as nossas duas universidades, atlântica e mediterrânica.
 
«Água: Porto/Aigua: Barcelona» é, portanto, um projecto simultaneamente de criação e investigação artísticas. Coincidindo com a celebração, em 2013, do Ano Internacional da Água, este nosso trabalho pretende plasmar o entendimento do discurso artístico como discurso simultaneamente universal e particular, amplo de possibilidades, e aberto de conexões académicas. Com efeito, trata-se de compreender uma porção de mundo, onde Porto e Barcelona são apenas duas âncoras, ou duas referências-escalas de uma deambulação imagética que, de facto, não tem nem começo nem fim. Barcelona e Porto são, apenas, pretextos de lugar, de lugares, para se fomentar sentido de relação e de contexto cultural.
 
Enquanto coordenador do Porto, tive o privilégio de convidar os Professores José Ramalheira Vaz, Paulo Luís Almeida, e Mário Bismarck. Deste modo, as participações conjuntas do Porto e de Barcelona concretizam um projecto singular e plural.
 
Em António Quadros Ferreira a pintura compreende-se como um todo de caminho, um todo de estrutura, um todo de sistema, um todo de memória, isto é, um todo de processo. É por isso que a investigação em arte permite a possibilidade de sistematização e de consciência num terreno de ninguém, onde o pensar o fazer correspondem a um exercício de compreensão de um caminho que se faz de ligações e de interstícios. Com efeito, investigar para criar, e ou criar para investigar é o mesmo. Em José Ramalheira Vaz o exercício de investigação decorre de uma reflexão a partir de estados da matéria. A ´piscina´ enquanto lugar da água e imagem de matéria é a metáfora da ideia preliminar. Do ponto de vista do método, tanto a construção, fechada, como a desconstrução, aberta, organizam uma dimensão de consciência, onde os territórios processuais estão presentes na ideia de que “a ligação entre a geometria e a água é como a das moléculas da água em estado líquido”. Em Paulo Luís Almeida a investigação decorre do entendimento da água enquanto ecrã refletor, através do qual imagens multimodais emergem do fluxo dos seus movimentos. A importância do desenho existe tanto no que (se) diz como no que (se) faz e, nesta circunstância, o regime háptico possibilita a produção de sentido por via de uma estratégia, de ´enxertia´, entre a imaginação material e a imaginal formal, onde a água como corpo e estado atribui poder retórico às imagens. Em Mário Bismarck reitera-se o paradigma do entendimento da água (como espelho) enquanto elemento central e fundador da imagem perceptiva. Água, imagem e Narciso são as palavras-chaves que ensaiam as implicações da construção de uma visualidade que o desenho possibilita. Na estratégia de ´variação sobre um tema´ a decisão de uma similitude entre a água e a música. Ou a reciprocidade de um lugar de relação com Narciso: “é a água que (…) dá a imagem” (?).
 
As oito contribuições para este projecto, quatro da Universidade do Porto, e quatro da Universidade de Barcelona, mais não fazem do que responder a um assunto de investigação artística que encontra na metáfora-pergunta água uma possibilidade real de produção de sentido, onde através da diversidade de soluções estéticas e visuais se constrói conhecimento novo.
 
 
António Quadros Ferreira
Coordenador
I2ADS, Faculdade de Belas Artes
Universidade do Porto